Ao ler o poema "Operário em construção" de Vinícius de Morais é impossível não fazer alusão a Fausto, de Goethe, primeiramente porque ambos fazem uma “releitura” de passagens bíblicas. "O operário em construção", explicitamente, nos remete a Lucas, cap. V, vs. 5-8, onde Jesus é tentado pelo diabo, em contrapartida, Fausto remete ao livro de Jó, cap. II, vs. 2-7, onde o Senhor, muito confiante em seu servo, permite que o diabo o ponha a prova:
2 Então o Senhor perguntou a Satanás: Donde vens? Respondeu Satanás ao Senhor, dizendo: De rodear a terra, e de passear por ela.
3 Disse o Senhor a Satanás: Notaste porventura o meu servo Jó, que ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, que teme a Deus e se desvia do mal? Ele ainda retém a sua integridade, embora me incitasses contra ele, para o consumir sem causa.
4 Então Satanás respondeu ao Senhor: Pele por pele! Tudo quanto o homem tem dará pela sua vida.
5 Estende agora a mão, e toca-lhe nos ossos e na carne, e ele blasfemará de ti na tua face!
6 Disse, pois, o Senhor a Satanás: Eis que ele está no teu poder; somente poupa-lhe a vida.
7 Saiu, pois, Satanás da presença do Senhor, [...]
Prólogo no céu
(Quadro I, cena única)
MEFISTÓFELES (cortejando ao Padre Eterno)
Inda enfim cá tornei. Visto quereres
saber por mim o que lá vai no mundo,
pronto; que antigamente (inda me lembra)
gostavas de me ouvir. É só por isso
que me tornas a ver entre esta súcia.
Tem paciência! Eu, retóricas sublimes,
é coisa que não gasto; e mesmo escuso
deste augusto congresso expor-me às vaias.
Co’o meu patos tu próprio te ririas,
a não teres perdido esse costume.
Sei cá palavrear de sois! De mundos!
Toda a minha sabença é perder homens.
O deusinho do mundo é sempre o mesmo:
E tão extravagante como o era
saber por mim o que lá vai no mundo,
pronto; que antigamente (inda me lembra)
gostavas de me ouvir. É só por isso
que me tornas a ver entre esta súcia.
Tem paciência! Eu, retóricas sublimes,
é coisa que não gasto; e mesmo escuso
deste augusto congresso expor-me às vaias.
Co’o meu patos tu próprio te ririas,
a não teres perdido esse costume.
Sei cá palavrear de sois! De mundos!
Toda a minha sabença é perder homens.
O deusinho do mundo é sempre o mesmo:
E tão extravagante como o era
Em seu primeiro dia. Melhor fora
(digo eu cá) não lhe teres infundido
o raio dessa luz, que lá se chama
Razão, e que na prática só presta
para o tornar mais bruto que os mais brutos.
Com licença da Tua Majestade,
o que ele me parece, é gafanhoto
pernilongo, com mescla de cigarra,
já voador, já saltam, já num relvado
co’a sua solfa velha a estrugir tudo.
E vá lá, se da erva não saísse
inda era meio mal; mas tem o sestro
de se andar sempre à cata de imundícies.
(digo eu cá) não lhe teres infundido
o raio dessa luz, que lá se chama
Razão, e que na prática só presta
para o tornar mais bruto que os mais brutos.
Com licença da Tua Majestade,
o que ele me parece, é gafanhoto
pernilongo, com mescla de cigarra,
já voador, já saltam, já num relvado
co’a sua solfa velha a estrugir tudo.
E vá lá, se da erva não saísse
inda era meio mal; mas tem o sestro
de se andar sempre à cata de imundícies.
O SENHOR
Parece-se contigo. O teu regalo
é esse: acusar sempre. Então no mundo
nada há bom?
é esse: acusar sempre. Então no mundo
nada há bom?
MEFISTÓFELES
Não senhor. Quanto eu lá vejo
passa até de ruim. Chega a haver dias
que eu próprio tenho lástima dos homens,
coitados! Nem me animo a atormentá-los.
passa até de ruim. Chega a haver dias
que eu próprio tenho lástima dos homens,
coitados! Nem me animo a atormentá-los.
O SENHOR
Viste Fausto?
MEFISTÓFELES
O Doutor?
SENHOR
Sim, o meu servo.
MEFISTÓFELES
Servo teu? Guapo servo! O rei dos parvos.
Seu comer e beber são do outro mundo.
Pasce-se no fervor da cachimónia,
que o traz há muito aéreo; em suma, é doido,
e ele próprio o suspeita. Ambiciona
cá do céu as estrelas mais formosas,
da terra gozos máximos. Nem perto
nem longe, vê, nem sonha, em que se farte.
Seu comer e beber são do outro mundo.
Pasce-se no fervor da cachimónia,
que o traz há muito aéreo; em suma, é doido,
e ele próprio o suspeita. Ambiciona
cá do céu as estrelas mais formosas,
da terra gozos máximos. Nem perto
nem longe, vê, nem sonha, em que se farte.
O SENHOR
Por enquanto, anda à toa; em breves dias
lhe darei claridade. O fazendeiro
antevê, no abrolhar, a flor e o fruto.
lhe darei claridade. O fazendeiro
antevê, no abrolhar, a flor e o fruto.
MEFISTÓFELES
Quer Vossa Majestade uma apostinha?
Verá se também este se não perde,
uma vez que me deixe encaminhá-lo.
Verá se também este se não perde,
uma vez que me deixe encaminhá-lo.
O SENHOR
Deixo, enquanto for vivo. Onde há cobiças,
é natural o errar.
é natural o errar.
MEFISTÓFELES
Muito obrigado.
Pois co’os vivos também é que me eu quero;
com defuntos embirro; o meu regalo
é tentar caras rechonchudas, frescas;
sou como o gato: de murganho morto
não faço caso; o meu divertimento
é correr e arpoar aos que me fogem.
Pois co’os vivos também é que me eu quero;
com defuntos embirro; o meu regalo
é tentar caras rechonchudas, frescas;
sou como o gato: de murganho morto
não faço caso; o meu divertimento
é correr e arpoar aos que me fogem.
O SENHOR
Como queiras. Permito-te que o tentes.
Se lograres caçá-lo desbatiza-o,
e inferna-o muito embora. Mas, corrido
fiques tu in æternum, se confessas
que o bom, dado que errar às vezes possa,
nunca nos sai da estrada, a reta, a nossa.
Se lograres caçá-lo desbatiza-o,
e inferna-o muito embora. Mas, corrido
fiques tu in æternum, se confessas
que o bom, dado que errar às vezes possa,
nunca nos sai da estrada, a reta, a nossa.
MEFISTÓFELES
Bom. Não lhe há-de tardar o desengano,
Ganhei tão certo a aposta, como é certo
chamar-me eu Mefistófeles. Se eu vingo
na empresa, a palma do triunfo é minha.
Há-de se regalar de comer terra,
como a tia serpente.
Ganhei tão certo a aposta, como é certo
chamar-me eu Mefistófeles. Se eu vingo
na empresa, a palma do triunfo é minha.
Há-de se regalar de comer terra,
como a tia serpente.
O SENHOR
Alargo a vénia.
Outorgo, enquanto andares nesse empenho,
poderes incarnar, viver co’os homens.
Aos demos como tu, maraus e alegres,
nunca os aborreci tão cá de dentro,
como aos demais que a minha essência negam.
O homem cansa depressa; e quando cansa
nada mais quer fazer. Em razão disso
é que eu houve por bem dar-lhe estes sócios
que o despertam, ativam; potestades
criadoras até!
Outorgo, enquanto andares nesse empenho,
poderes incarnar, viver co’os homens.
Aos demos como tu, maraus e alegres,
nunca os aborreci tão cá de dentro,
como aos demais que a minha essência negam.
O homem cansa depressa; e quando cansa
nada mais quer fazer. Em razão disso
é que eu houve por bem dar-lhe estes sócios
que o despertam, ativam; potestades
criadoras até!
(Voltando-se para os anjos)
Vós outros, filhos
legítimos de Deus! regozijai-vos
nesta mansão das perenais delícias,
aqui onde o poder que vive eterno
e eternamente cria, vos enlaça
com vínculos de amor indissolúveis.
E essas do mundo cambiantes cenas,
ide assentando na vivaz memória!
legítimos de Deus! regozijai-vos
nesta mansão das perenais delícias,
aqui onde o poder que vive eterno
e eternamente cria, vos enlaça
com vínculos de amor indissolúveis.
E essas do mundo cambiantes cenas,
ide assentando na vivaz memória!
(Cerra-se o empíreo, dissipando-se os espíritos).
MEFISTÓFELES (só)
E está bem conservado. Não desgosto
de o ver de vez em quando. O meu sistema
de não quebrar com ele inteiramente,
mesmo assim, não é mau. Tamanho vulto
conversar tanto à mão co’um diabrete
não é leve honraria.
E se eu lhe ganho a aposta! oh! que ufania!...
de o ver de vez em quando. O meu sistema
de não quebrar com ele inteiramente,
mesmo assim, não é mau. Tamanho vulto
conversar tanto à mão co’um diabrete
não é leve honraria.
E se eu lhe ganho a aposta! oh! que ufania!...
[...]
(Fausto, pag. 27 a 30)
(Quadro II, cena I)
FAUSTO (dessocegado, sentado numa poltrona de sola e pregaria de cobre, com a cabeça fincada nas mãos, e os cotovelos na mesa de estudo, na qual derrama luz frouxa um candeeiro aceso.)
Ao cabo de escrutar co’o mais ansioso estudo
filosofia, e foro, e medicina, e tudo
até a teologia... encontro-me qual dantes;
em nada me risquei do rol dos ignorantes.
Mestre em artes me chamo; inculco-me Doutor;
e em dez anos vai já que, intrépido impostor,
aí trago em roda viva um bando de crendeiros,
meus alunos... de nada, e ignaros verdadeiros.
O que só liquidei depois de tanta lida,
foi que a humana inciência é lei nunca infringida.
Que frenesi! Sei mais, sei mais, isso é verdade,
do que toda essa récua inchada de vaidade:
lentes e bacharéis, padres e escrevedores.
Já me não fazem mossa escrúpulos, terrores
de diabos e inferno, atribulados sonhos
e martírio sem fim dos ânimos bisonhos.
filosofia, e foro, e medicina, e tudo
até a teologia... encontro-me qual dantes;
em nada me risquei do rol dos ignorantes.
Mestre em artes me chamo; inculco-me Doutor;
e em dez anos vai já que, intrépido impostor,
aí trago em roda viva um bando de crendeiros,
meus alunos... de nada, e ignaros verdadeiros.
O que só liquidei depois de tanta lida,
foi que a humana inciência é lei nunca infringida.
Que frenesi! Sei mais, sei mais, isso é verdade,
do que toda essa récua inchada de vaidade:
lentes e bacharéis, padres e escrevedores.
Já me não fazem mossa escrúpulos, terrores
de diabos e inferno, atribulados sonhos
e martírio sem fim dos ânimos bisonhos.
Mas, com te suplantar, fatal credulidade,
que bens reais lucrei? Gozo eu felicidade?
Ah! Nem a de iludir-me e crer-me sábio. Sei
que finjo espalhar luz, e nunca a espalharei
que dos maus faça bons, ou torne os bons melhores;
antes faço os bons maus, e os maus inda piores.
Lucro, sequer, eu próprio? Ambiciono opulência,
e vivo pobre, quase à beira da indigência.
Cobiço distinguir-me, enobrecer-me, e vou-me
co’a vil plebe confuso, à espera em vão de um nome.
E chama-se isto vida! Os próprios cães da rua
não quereriam dar em troco desta a sua.
que bens reais lucrei? Gozo eu felicidade?
Ah! Nem a de iludir-me e crer-me sábio. Sei
que finjo espalhar luz, e nunca a espalharei
que dos maus faça bons, ou torne os bons melhores;
antes faço os bons maus, e os maus inda piores.
Lucro, sequer, eu próprio? Ambiciono opulência,
e vivo pobre, quase à beira da indigência.
Cobiço distinguir-me, enobrecer-me, e vou-me
co’a vil plebe confuso, à espera em vão de um nome.
E chama-se isto vida! Os próprios cães da rua
não quereriam dar em troco desta a sua.
(Fausto, pag. 33 a 34)
Outro aspecto em comum entre o poema de Vinícius e o livro de Goethe é que tanto o Dr. Fausto é tentado pelo demônio, quanto o operário pelo patrão, e mais ainda, ambos denotam insatisfação com a vida que levam, com a falta de reconhecimento:
* O operário é aquele que cria, que deveria ser dono de tudo o que constrói, no entanto, tudo escorre pelas suas mãos calejadas: o reconhecimento e o poder vai para outrem. É tentador interpretar a relação operário/patrão do poema como um pacto, mais ainda, pacto que fora quebrado a partir do momento em que o operário vê que tudo o que o patrão lhe oferecia era seu. Ninguém podia dar-lhe o que já lhe pertencia. Em vista disso, liberta-se das correntes do patrão ao descobrir a sua real importância no mundo, a sua contribuição e, com isso, dá-se o seu renascimento de “operário construído” em “operário em construção.”
*Fausto achava tudo muito limitado, tudo relativamente pequeno para a sua existência e conhecimentos, o mundo lhe era pequeno; então não titubeou ao fazer um pacto com Mefistófeles. Além das coisas terrenas, Fausto descobre as mil faces do mundo sobrenatural, todavia, o que havia de dar em troca era o seu bem mais precioso: sua alma.
No decorrer da trama, Fausto começa a perceber que o que oferecera a Mefistófeles lhe custaria muito. O motivo de seu despertar fora o amor que descobrira através de Margarida que por causa dele morreu.
Tempos mais tarde, Fausto morre, o dia da cobrança de Mefistófeles é chegado, mesmo com a alma de Fausto já contrita. Todavia para o desespero de Mefistófeles, o Padre Eterno encarregara suas potestades de buscar a alma de Fausto.
Fausto não podia dar o que não lhe pertencia, sua alma era do Senhor.
Fausto
Johann Wolfgang von Goethe
(1749-1832)
Tradução
António Feliciano de Castilho
(1800-1875)
Versão para eBook
Johann Wolfgang von Goethe
(1749-1832)
Tradução
António Feliciano de Castilho
(1800-1875)
Versão para eBook
Outros textos que dialogam com o poema:
Cidadão(Lúcio Barbosa)
Tá vendo aquele edifício moço
Ajudei a levantar
Foi um tempo de aflição
Eram quatro condução
Duas prá ir, duas prá voltar
Hoje depois dele pronto
Olho prá cima e fico tonto
Mas me vem um cidadão
E me diz desconfiado
"Tu tá aí admirado?
Ou tá querendo roubar?"
Meu domingo tá perdido
Vou prá casa entristecido
Dá vontade de beber
E prá aumentar meu tédio
Eu nem posso olhar pro prédio
Que eu ajudei a fazer...
Ajudei a levantar
Foi um tempo de aflição
Eram quatro condução
Duas prá ir, duas prá voltar
Hoje depois dele pronto
Olho prá cima e fico tonto
Mas me vem um cidadão
E me diz desconfiado
"Tu tá aí admirado?
Ou tá querendo roubar?"
Meu domingo tá perdido
Vou prá casa entristecido
Dá vontade de beber
E prá aumentar meu tédio
Eu nem posso olhar pro prédio
Que eu ajudei a fazer...
Tá vendo aquele colégio moço
Eu também trabalhei lá
Lá eu quase me arrebento
Fiz a massa, pus cimento
Ajudei a rebocar
Minha filha inocente
Vem prá mim toda contente
"Pai vou me matricular"
Mas me diz um cidadão:
"Criança de pé no chão
Aqui não pode estudar"
Essa dor doeu mais forte
Por que é que eu deixei o norte
Eu me pus a me dizer
Lá a seca castigava
Mas o pouco que eu plantava
Tinha direito a comer...
Eu também trabalhei lá
Lá eu quase me arrebento
Fiz a massa, pus cimento
Ajudei a rebocar
Minha filha inocente
Vem prá mim toda contente
"Pai vou me matricular"
Mas me diz um cidadão:
"Criança de pé no chão
Aqui não pode estudar"
Essa dor doeu mais forte
Por que é que eu deixei o norte
Eu me pus a me dizer
Lá a seca castigava
Mas o pouco que eu plantava
Tinha direito a comer...
Tá vendo aquela igreja moço
Onde o padre diz amém
Pus o sino e o badalo
Enchi minha mão de calo
Lá eu trabalhei também
Lá foi que valeu a pena
Tem quermesse, tem novena
E o padre me deixa entrar
Foi lá que Cristo me disse:
"Rapaz deixe de tolice
Não se deixe amedrontar
Fui eu quem criou a terra
Enchi o rio, fiz a serra
Não deixei nada faltar
Hoje o homem criou asa
E na maioria das casas
Eu também não posso entrar
Fui eu quem criou a terra
Enchi o rio, fiz a serra
Não deixei nada faltar
Hoje o homem criou asas
E na maioria das casas
Eu também não posso entrar"
Onde o padre diz amém
Pus o sino e o badalo
Enchi minha mão de calo
Lá eu trabalhei também
Lá foi que valeu a pena
Tem quermesse, tem novena
E o padre me deixa entrar
Foi lá que Cristo me disse:
"Rapaz deixe de tolice
Não se deixe amedrontar
Fui eu quem criou a terra
Enchi o rio, fiz a serra
Não deixei nada faltar
Hoje o homem criou asa
E na maioria das casas
Eu também não posso entrar
Fui eu quem criou a terra
Enchi o rio, fiz a serra
Não deixei nada faltar
Hoje o homem criou asas
E na maioria das casas
Eu também não posso entrar"
Construção (Chico Buarque)
Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego
Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público
Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado
Por esse pão pra comer, por esse chão prá dormir
A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir,
Deus lhe pague
Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela fumaça e a desgraça, que a gente tem que tossir
Pelos andaimes pingentes que a gente tem que cair,
Deus lhe pague
Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
E pelas moscas bicheiras a nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir,
Deus lhe pague
A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir,
Deus lhe pague
Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela fumaça e a desgraça, que a gente tem que tossir
Pelos andaimes pingentes que a gente tem que cair,
Deus lhe pague
Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
E pelas moscas bicheiras a nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir,
Deus lhe pague
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